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A gaiola dourada

Publicado 09.09.2013, 11:43

Nos anos 1960, Portugal era um país pacato e trabalhador, poupado e prudente, que se sacrificava generosamente, labutando dia e noite para cumprir os deveres. Frequentemente emigrava e procurava vida melhor noutras terras. E os patrões, franceses ou alemães, suíços ou americanos, gostavam dele, por ser pacato e trabalhador, poupado e prudente. Havia quem abusasse da sua dedicação, e ele sabia-o. Sentia-se enganado, mas apesar disso trabalhava com afinco.

Um dia, Portugal recebeu uma boa notícia da terra. Aqueles que abusavam dele tinham sido afastados. A opressão acabara e ele podia regressar, para viver rico e feliz na sua própria casa. E Portugal voltou, porque já não seria preciso ser pacato e trabalhador, poupado e prudente. Era um país democrático, livre, independente. A nova geração iria viver como os patrões franceses e alemães. E Portugal gastou. Criou autarquias e dinamização cultural, comprou frigoríficos e televisões, fez planeamento económico, exigiu escolas e hospitais.

Só que a euforia da liberdade política criou um problema de endividamento. Quatro anos após regressar, Portugal estava falido, com o FMI à porta, exigindo pagamento. O choque foi grande. Portugal compreendeu que, afinal, não era como os patrões europeus. Estava tão desgraçado como os mexicanos, os argentinos, os gregos e outros países da dívida. O buraco era enorme. Não havia solução.

Foi então que Portugal se lembrou de seus pais, pacatos e trabalhadores, poupados e prudentes. E perante a austeridade do FMI, Portugal esforçou-se, apertou o cinto, labutou, amealhou e pagou as dívidas. Os países credores não acreditavam que fosse possível a recuperação, enquanto os dirigentes e políticos bramavam contra a nova ditadura do dinheiro e exigiam direitos. Mas Portugal não quis ouvir e, uns anos depois, tinha a casa em ordem. Foi espantoso!

Os europeus, admirados, gostaram de Portugal, por ser pacato e trabalhador, poupado e prudente. Quando o viram de novo com as contas certas e a vida organizada, aumentaram-lhe o ordenado, ofereceram-lhe sociedade. Portugal entrou na CEE. Jantou com os antigos patrões, de igual para igual. Passou a ser europeu.

Até que um dia Portugal recebeu uma boa notícia. Os seus esforços tinham sido recompensados e ele fora admitido na moeda única. A partir de agora iria partilhar não apenas instituições e directivas, mas taxas de juro e crédito. Era finalmente um parceiro a sério, considerado mesmo igual. Pertencia ao clube, não apenas político, mas financeiro. Podia viver rico e feliz na sua terra.

E Portugal achou que já não seria preciso ser pacato e trabalhador, poupado e prudente. A nova geração iria viver como os parceiros franceses e alemães porque, graças ao euro, pedia dinheiro emprestado nos mesmos bancos e aos mesmos preços. Casaria até a filha com o filho deles. Era um país desenvolvido, capitalista, globalizado. E Portugal gastou. Construiu auto-estradas, fez parques industriais, exigiu computadores para todos os alunos e novas carreiras médicas.

Só que a euforia da liberdade financeira criou um problema de endividamento. Dez anos depois de entrar no euro, Portugal estava falido, com a troika à porta, exigindo pagamento. O choque foi grande. Portugal compreendeu que, afinal, não era como os países ricos. Estava tão desgraçado como irlandeses, gregos, argentinos e outros países da dívida. O buraco era enorme. Não havia solução.

Então Portugal lembrou-se de seus pais e avós, pacatos e trabalhadores, poupados e prudentes. A nova geração voltou a velhos hábitos. Agora, perante a austeridade da troika, Portugal esforça-se, aperta o cinto, labuta, poupa e paga as dívidas. Os credores não acreditam que seja possível a recuperação, enquanto os dirigentes bramam contra a ditadura do dinheiro e exigem direitos. Mas Portugal não quer ouvir. Labuta, amealha, emigra e procura vida melhor noutras terras. E os patrões, franceses ou alemães, suíços ou americanos, gostam dele por ser pacato e trabalhador, poupado e prudente. Parece um filme!

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