Actas da reunião da Reserva Federal

 | 08.07.2015 18:49

Divulgação

Hoje, dia 8 de Julho, às 19h00 (14h00 ET), serão divulgadas as actas da reunião do US Federal Open Market Committee (FOMC) da Reserva Federal – FOMC Meeting Minutes.

Definição
O FOMC, uma das comissões mais importantes dentro da Reserva Federal, define a política monetária a aplicar à economia dos EUA. Esta comissão reúne oito vezes por ano e é composto por 12 membros, dos quais sete são permanentes e pertencem ao board de governadores da Reserva Federal e os restantes cinco são presidentes de bancos de reserva (reserve banks são bancos regionais que operam sob supervisão da FED), com mandatos rotativos de um ano.

Durante as reuniões do FOMC, os membros desta comissão, tendo por base a presente situação da economia bem como as perspectivas futuras, decidem acerca de possíveis alterações aos principais instrumentos de política monetária: taxa de juro e oferta de moeda (Money Supply). Esta última pode ser influenciada através das operações de compra e venda de activos em mercado, levadas a cabo pela Reserva Federal (Open Market Operations).

Estas actas são divulgadas duas a três semanas após a reunião do FOMC.

Expectativas e publicações anteriores
Desde o início do ano até ao momento, o FOMC divulgou as actas de quatro reuniões (Janeiro, Fevereiro, Abril e Maio), das quais destacamos os seguintes pontos principais:

· 7 de Janeiro: Apesar de o FOMC ter considerado que o baixo preço do petróleo poderia ter um efeito positivo na actividade económica, especialmente no emprego, e simultaneamente ter assumido que aos então actuais níveis de inflação (Core CPI YoY Dezembro: 1,7%) poderia fazer sentido aumentar taxas, esta comissão manteve a “paciência” como palavra de ordem, sinalizando que não se esperava subida de taxas de juro durante as próximas reuniões.
· 18 de Fevereiro: Ao reiterar que a Reserva Federal permanecia paciente em relação à subida das taxas de juro, o FOMC exacerbou a sua postura dovish, face ao esperado pelos analistas. O objectivo do FOMC subjacente a este discurso consistiu em não concentrar demasiado a atenção do mercado nas alterações de taxa de juro.
· 8 de Abril: O FOMC começou a preparar terreno para uma subida das taxas de juro ainda este ano, apontando Junho como um possível mês para iniciar este aumento. Todavia, de forma a manter alguma margem de manobra, o FOMC indicou que a evolução positiva das taxas traduzir-se-ia num processo gradual e fortemente dependente de melhorias consistentes nas várias vertentes da actividade económica (data dependency).
· 20 de Maio: Ao contrário do que havia sido colocado como hipótese bastante válida na reunião anterior, vários membros da FED consideraram que uma subida da taxa de juro em Junho seria pouco provável. Contudo, não excluíram o cenário de aumento durante o terceiro trimestre do ano. Os dois principais factores a pesarem na decisão sobre a taxa de juro foram a forte valorização do dólar registada desde o início do ano e a crescente robustez da economia norte-americana, aspectos que concorrem para decisões contrárias: manter ou subir as taxas, respectivamente.


Conjuntura e importância
A política monetária dos EUA tem repercussões directas e indirectas em praticamente todas as classes de activos, principalmente a nível doméstico mas também internacional. Das reuniões do FOMC emanam as principais directrizes para a definição desta política e, por conseguinte, a divulgação das respectivas actas é alvo da maior atenção por parte dos economistas e investidores.

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Durante o último trimestre, a economia norte-americana tem apresentado claros sinais de fortalecimento, com destaque para as melhorias significativas no mercado de trabalho e no consumo, componente fulcral para o PIB dos EUA (cerca de 69% do PIB). No que diz respeito aos sectores de actividade económica, a manufactura, a produção industrial e o sector imobiliário têm apresentado um comportamento misto, enquanto o sector dos serviços continua a ser uma das componentes mais frágeis.
Outros dois factores que são igualmente objecto de uma análise aprofundada por parte do FOMC são: o valor do dólar face às demais moedas de referência mundial e a inflação. Desde o início de 2015, o USD Index já valorizou cerca de 7,8% e, especificamente face ao euro, o dólar já apreciou mais de 9,5%. Por seu turno, a inflação na economia dos EUA, embora ainda abaixo da meta traçada pela FED – 2% – tem apresentado uma evolução globalmente positiva em direcção ao referido objectivo, quando medida pelo proxy Core CPI.

Finalmente, desde a última reunião do FOMC até à data de hoje, vários membros da Reserva Federal têm discursado publicamente, assumindo posições com diferentes graus de agressividade face à subida das taxas de juro. A actual percepção dos analistas em relação aos governadores da Reserva Federal e dos bancos de reserva é que nove assumem uma posição dovish, quatro assumem uma posição hawkish, dois apresentam uma posição neutra e um ainda não se pronunciou quanto a este assunto.

No cômputo geral, todos estes factores deixam o mercado bastante expectante em relação ao timing de subida de taxas de juro, pelo que se espera bastante volatilidade no mercado aquando da divulgação das actas de hoje.

Histórico
Historicamente, o mercado reage com bastante volatilidade à divulgação das minutas, especialmente quando há novidades em relação à taxa de juro estabelecida pela Reserva Federal. Num contexto de subida de taxa de juro, o dólar aprecia tendencialmente face às demais moedas, as yields costumam subir, levando à descida do preço das obrigações e as acções desvalorizam, principalmente por via do aumento do custo de oportunidade.

No que diz respeito ao preço das commodities, embora não tão evidente, normalmente a reacção é de queda, principalmente no caso dos metais preciosos, que cotam em USD.

Na nossa opinião, caso as actas do FOMC não sinalizem uma subida de taxa de juro imediata ou próxima, dois aspectos poderão levar a uma reacção mais ténue do mercado à divulgação das mesmas: a actual conjuntura que afecta mercados financeiros mundiais – domínio da crise grega sobre as tendências de curto prazo e o peso da queda vertiginosa da bolsa de Shangai nas bolsas mundiais – e a publicação de vários discursos de governadores da FED e bancos de reserva que vão naturalmente diluindo o efeito de surpresa.

De todas as reuniões do FOMC deste ano, a que registou maior volatilidade aquando da divulgação das respectivas actas foi a de Fevereiro. A Reserva Federal surpreendeu o mercado com a reafirmação da sua postura bastante dovish em relação à subida das taxas de juro. Nesta data, após a divulgação das actas, o EUR/USD valorizou 72,15 pips em 10 minutos, a onça de ouro teve uma reacção bastante semelhante, apreciando USD 13,795 em 30 minutos. O índice accionista NASDAQ 100 respondeu à divulgação das actas com uma subida impulsiva de 0,24% em 10 minutos, tendo posteriormente encetado um movimento correctivo, ao invés do que se verificou com o EUR/USD e o ouro, que sustentaram a reacção em alta, registada na sequência da divulgação das actas do FOMC.