Warren Buffett e a Carta mais esperada do ano

 | 02.03.2021 00:24

Saiu a Carta Anual de Warren Buffett aos acionistas! Bem…na verdade, a carta é da Berkshire, mas é assinada pelo Warren Buffett, seu Chefe-Executivo há mais de 50 anos! Temos sempre muito a aprender com as suas Cartas… E por isso trago-te neste artigo os principais tópicos abordados na Cara. Organizei-os por 7 pontos, para assim ser mais fácil digerires a informação. 

1. Desempenho da Berkshire Hathaway

Desde que Warren Buffett comprou a empresa têxtil e a transformou num conglomerado diversificado de empresas dos mais variados setores, o desempenho da Berkshire foi absolutamente esmagador!

A rentabilidade anualizada da empresa desde 1965 a 2020 é de 20%/ano, o que contrasta com a do S&P500 que conseguiu 10.2%/ano (ainda assim bastante considerável face a outras opções de investimento, como falaremos mais à frente).

Para tu veres a diferença que faz, 1000€ investidos em 1965 teriam sido transformados em 28.1 milhões de euros!!! (uma rentabilidade acumulada de 2.810.526%!!!)

Um desempenho bem superior ao que terias conseguido com o S&P500 (235.540€, ou uma rentabilidade acumulada de 23.454%). 

2. Erros admitidos

Em primeiro lugar, Warren admitiu que não fez nenhuma aquisição relevante em 2020 e os lucros operacionais da empresa diminuíram 9% face a 2019, o que desapontou muitos investidores na empresa (nota: uma vez mais reiterou que a métrica que conta mais para ele na Demonstração de Resultados são os lucros operacionais).

No entanto, afirmou que o valor intrínseco das ações da Berkshire aumentou, pois a recompra de ações (que representaram 5% da capitalização bolsista da empresa) fez aumentar esse valor (falaremos deste ponto mais à frente).

Admitiu também que pagou demais pela Precision Castparts (PCC) em 2016 ($11 biliões). Disse que se entusiasmou com a perspetiva dos lucros futuros e que acabou por pagar demasiado pela empresa. Não é o seu primeiro erro, mas considera-o um grande erro.

Estranhamente, não falou sobre as vendas das posições nas companhias aéreas. É verdade que já tinha referido no Encontro Anual de 2020, mas senti falta de uma explicação por escrito sobre o tema. 

3. Conglomerados e joias da coroa

Warren não vê a Berkshire como um típico conglomerado. O seu foco não é controlar outros negócios e substituir a antiga administração, mas sim comprar parcial ou totalmente negócios excecionais bem geridos. Warren e Charlie Munger (seu parceiro na Berkshire) não querem ter muito trabalho nas decisões empresariais das empresas. Apenas querem injetar dinheiro nesses negócios excecionais, deixar a gestão a atuar, e lucrar com os seus resultados ao longo dos anos. Apesar de deter posições em dezenas de empresas, a maioria está concentrada naquilo que ele chamou das 4 joias da coroa.

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A primeira joia da coroa é o negócio da seguradora, que gera mais capital do que aquele que tem de libertar. A melhor parte do negócio da seguradora é que a Berkshire consegue investir o dinheiro dos segurados em Ações, algo que a maioria das seguradoras a nível global não consegue (só consegue em Obrigações, pois as regras para os negócios das seguradoras são diferentes dos conglomerados, e Warren tem aqui uma grande vantagem).

E neste campo, Warren adicionou um comentário que vem corroborar o que tenho vindo a defender: as Obrigações são um investimento muito medíocre neste momento! A verdade é que as Obrigações de Estados estão a render 0% na maioria dos países (e em alguns, como a Alemanha ou o Japão, ainda és tu que pagas pelo “privilégio” de emprestar dinheiro ao governo por 10 anos). Só nos EUA, a rentabilidade das Obrigações caiu 94% desde 1981!!! Nessa altura havia Obrigações a render 15.8%. Hoje rendem 0% ou 0.5%, o que é péssimo para fazer crescer o nosso dinheiro! E esta é a grande vantagem da Berkshire face a outras seguradoras: conseguir investir em ativos que rentabilizam verdadeiramente o nosso capital (as Ações), enquanto a concorrência tem de se limitar a investir em produtos que não rendem tanto (as Obrigações).

A segunda joia da coroa é o negócio da ferrovia: a BNSF Railway. Esta é a segunda maior empresa dos EUA em número de linhas de comboio e locomotivas. A Berkshire comprou a totalidade da empresa em 2009, aquando da Crise Financeira Mundial.

Warren Buffett considera a terceira joia da coroa a posição de 5.4% que detêm da Apple (NASDAQ:AAPL). Esta é uma posição relevante numa empresa que hoje vale mais de um trilião de dólares.

E por último, a quarta joia da coroa é a posição de 91% da Berkshire Hathaway Energy, uma empresa de Serviços de Utilidade Pública (Utilities) que cresceu dos $122 milhões para $3.4 biliões em 21 anos. Este investimento representa um crescimento de 27x!!! A importância de investir a longo prazo está aqui bem patente!

Mais uma mensagem importante do super-investidor: mantém os teus investimentos por 20 ou mais anos e verás algumas ações a ter estes níveis de crescimento! 

4. Recompra de ações da Berkshire Hathaway 

Durante 2020, a Berkshire Hathaway recomprou $24.7 biliões em ações da própria empresa, o que aumentou a posição dos acionistas na Berkshire (e nos negócios todos que a empresa detém) em 5.2% sem terem de gastar um cêntimo adicional. E qual a importância da recompra de ações? Quando uma empresa recompra ações próprias, nós aumentamos a nossa posição na empresa sem gastar um único cêntimo! Claro que é preciso fazê-lo aos preços corretos, e Warren voltou a salientar isso nesta carta.

Aliás, ele é um crítico dos empresários que recompram ações das empresas a qualquer preço, independentemente do seu valor intrínseco. Ou pior… aqueles que recompram mais ações quando elas estão sobreavaliadas e não aproveitam as alturas em que elas estão subavaliadas para aumentar o valor da empresa.

Observando a imagem abaixo vemos que a maioria da recompra de ações é feita, infelizmente, nas alturas em que os mercados estão mais sobreaquecidos, e é esfriada quando os mercados estão deprimidos (e as ações ofereciam ótimos preços face ao seu valor intrínseco). Repara como em 2008-2009 e em 2020, quando os preços estavam mais deprimidos e a oportunidade de valorizar os acionistas era maior, as empresas do S&P500 recompraram menos ações. Ou seja, a maioria das empresas do S&P500, infelizmente, faz o contrário do que ditam as boas regras de investimento: comprar barato e vender caro!