Por Ben Hirschler
DAVOS, Suíça, 16 Jan (Reuters) - Apenas oito indivíduos, todos homens, possuem tanto dinheiro quanto a metade mais pobre da população mundial, disse nesta segunda-feira a Oxfam num relatório que pediu acções para reduzir os ganhos daqueles que já estão no topo.
Num momento no qual políticos e muitos multi-milionários se reúnem para o encontro anual do Fórum Económico Mundial, em Davos, o relatório da ONG sugere que a desigualdade de rendimentos está maior do que nunca, com novos dados para China e Índia a indicarem que a metade mais pobre da população mundial possui menos recursos do que anteriormente estimado.
A Oxfam, descrevendo essa desigualdade como "obscena", disse que, se os novos dados estivessem disponíveis antes, teriam mostrado que, em 2016, oito pessoas possuem o mesmo que as 3,6 mil milhões que compõem a metade mais pobre da humanidade.
Antes, era estimado que 62 pessoas correspondessem a essa parcela da população.
Em 2010, foram necessários os activos combinados das 43 pessoas mais ricas do mundo para igualar as riquezas somadas dos 50 por cento mais pobres, de acordo com os mais recentes cálculos.
A desigualdade tem movimentado a agenda internacional nos últimos anos, inclusivé tendo o papa Francisco, entre aqueles que alertaram sobre seus efeitos corrosivos, ao passo que um ressentimento com as elites tem ajudado a motivar um surto no populismo político.
"Vemos muita preocupação -e claramente a vitória de Trump e o Brexit deram novo ímpeto a isso neste ano- mas há uma falta de alternativas concretas", disse Max Lawson, director de políticas da Oxfam.
"Há maneiras diferentes de gerir o capitalismo que poderiam ser muito, muito mais benéficas para a maioria das pessoas."
A Oxfam pediu que se reprimisse evasão fiscal e uma mudança no chamado capitalismo accionista "sobrecarregado", que recompensa desproporcionalmente os ricos.
Enquanto muitos trabalhadores lutam com rendas estagnadas, a riqueza dos super ricos tem crescido a uma média de 11 por cento ao ano desde 2009.
Bill Gates, homem mais rico do mundo e rotineiro frequentador de Davos, viu a sua fortuna crescer em 50 por cento, ou 25.000 milhões de dólares (MD), desde que anunciou planos de deixar a Microsoft em 2006, apesar dos seus esforços de se desfazer de grande parte dessa riqueza.
Embora Gates exemplifique como a riqueza excessiva pode ser reciclada para ajudar os pobres, a Oxfam acredita que a "grande filantropia" não ajuda a solucionar o problema fundamental.
"Se os multi-milionários escolherem dar o seu dinheiro, essa é uma coisa boa. Mas a desigualdade importa e não se pode ter um sistema onde multi-milionários estão sistematicamente a pagar menos impostos do que suas secretárias ou seus faxineiros", disse Lawson.
A Oxfam baseou os seus cálculos em dados do banco suíço Credit Suisse e da Forbes.
Os oito indivíduos nomeados no relatório são Gates; Amancio Ortega, fundador da Inditex (MC:ITX); o investidor veterano Warren Buffett; o magnata mexicano Carlos Slim; o chefe da Amazon, Jeff Bezos; Mark Zuckerberg, do Facebook; Larry Ellison, da Oracle, e o ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg.
(Traduzido para português por Sérgio Gonçalves; Editado em português por Patrícia Vicente Rua)