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Perguntas e respostas entrevista ministro Economia Pedro Siza Vieira

Publicado 17.01.2019, 15:34
Atualizado 17.01.2019, 15:40
© Reuters.  Perguntas e respostas entrevista ministro Economia Pedro Siza Vieira

LISBOA, 16 Jan (Reuters) - Esta é a versão integral de perguntas e respostas da entrevista ao ministro Adjunto e da Economia.

Pedro Siza Vieira referiu que os Estados-membros da UE não sabem o que o Reino Unido pretende e têm de se preparar para a contingência de um 'hard Brexit', que não desejam, garantindo Portugal que os britânicos manterão os direitos de residência permanente no país e que não haverá vistos de entrada.

Seguem perguntas e respostas:

Reuters: Depois da votação no Parlamento britânico, a probabilidade de um hard Brexit aumentou ou diminuiu?

Ministro Economia: "É muito difícil fazer previsões nesta altura. Visto de fora, parece haver uma grande dificuldade, no Parlamento britânico, em se chegar a um consenso sobre os próximos passos a dar até 29 de Março e portanto nós temos de estar preparados para todas as eventualidades".

"Infelizmente desde que este processo começou as coisas não têm corrido de acordo com as melhores previsões. Temos de assumir que a realidade, neste momento, é que o acordo que tinha sido negociado entre o Governo britânico e a União Europeia - que estabelecia os termos de saída do Reino Unido e desenhava o quadro de negociação dos futuros termos de relacionamento -, não tendo a adesão do Parlamento britânico, não é uma possibilidade".

"Nesse sentido, quer a Enião Europeia, quer cada um dos Estados membro, se estão a preparar para a eventualidade da saída do Reino Unido se fazer sem um acordo intercalar, que permita fazer isso".

"Eu não sei se é mais ou menos provável (o 'hard Brexit'), mas é um dever dos Estados-membros estarem preparados para a pior eventualidade, que é aquela que não desejamos também, que é uma saída sem acordo".

Reuters: Nesse sentido, do ponto de vista do Governo português, o que é que a União Europeia tem de fazer a partir de agora? Acha que é provável uma extensão, adiar da implementação do Artigo 50 para após 29 de Março? Tem de haver flexibilização da UE para renegociar, revisitar regras como o Irish backstop?

Ministro Economia: "Acho que este acordo demorou muito tempo a negociar e é um acordo que mereceu o consenso de 27 países mais o Governo britânico".

"E nós, neste momento, não sabemos sequer o que é que o Reino Unido pretende. É muito difícil especularmos sobre o tipo de discussões pode haver".

"Gostava de recordar que o nosso ministro das Finanças e presidente do Eurogrupo expressou a opinião que é sempre voltar a conversar sobre qualquer aspecto da discussão, mas também é verdade que nós temos de saber aquilo que são as propostas do Reino Unido, que neste momento não se conhecem".

"Em segundo lugar, como disse o nosso primeiro-ministro, nós entendemos que o acordo de saída era uma coisa, pura e simplesmente, por razão de prudência. Era dizer que isto é a forma como se acertam as coisas relativamente à saída, em manter os direitos dos cidadãos e os termos dos relacionamentos comerciais entre os dois blocos durante um período transitório e estabelecer alguns princípios relativamente aos termos de relacionamento futuro".

"E os responsáveis da União Europeia tiveram a possibilidade de prestar esclarecimentos sobre a forma como interpretavam alguns dos termos dessa declaração conjunta sobre o relacionamento futuro".

"Acho que temos de ter sempre a melhor abertura e disponibilidade para encontrarmos as melhores soluções para os problemas que são difíceis, mas precisamos de ter um interlocutor, que neste momento não existe".

"Na ausência de uma proposta alternativa do Reino Unido, aquilo que que cada um dos Estados-membros está a fazer é adoptar medidas que permitam reagir a uma circunstância unilateral. Por isso é que ao nível da União Europeia está proposto um conjunto de medidas para assegurar, por exemplo, os direitos de transporte aéreo para evitar rupturas bruscas nessa altura, compromissos em relação aos direitos dos cidadãos. E cada um dos Estados-membros também já fez declarações unilaterais, que esperam concretizar numa base de reciprocidade".

"A propósito dos direitos dos cidadãos Portugal já exprimiu, relativamente aos direitos dos cidadãos britânicos aqui residentes, a garantia que estes poderão manter a residência permanente e que vamos assegurar a continuidade daquilo que são as regras previstas".

"E, no nosso plano de contingência relativamente aos cidadãos, adoptámos algumas intenções quanto às visitas futuras de cidadão britânicos: nós não vamos ter vistos de entrada, vamos conseguir assegurar a continuação da assistência nos estabelecimentos do Serviço Nacional de Sáude, mesmo depois de um 'hard Brexit'".

"Estamos disponíveis para unilateralmente fazer isso. É isso que podemos fazer na ausência de um acordo ou de uma proposta de revisão do acordo existente".

Reuters: Há a garantia do Governo português de que tal será assim?

Ministro Economia: "Há a garantia. O Governo já adoptou no Conselho de Ministros decisões em matéria dos direitos dos cidadãos e amanhã (hoje) no Conselho de Ministros vamos adoptar decisões de contingência relativamente à situação das empresas, que são decisões unilaterais dentro daquilo que é o âmbito do poder de decisão de Portugal como Estado-membro. Há certas matérias que são da competência da própria União Europeia - o transporte aéreo, os serviços financeiros, etc...- e há matérias que são da competência dos Estados-membros".

"Portugal já adoptou algumas decisões quanto aos direitos dos cidadãos e vai fazê-lo relativamente às empresas".

"Fizémos as decisões relativamente aos cidadãos numa base de reciprocidade. Estamos a dizer que respeitaremos os direitos dos cidadãso britânicos aqui residentes, na expectativa que o reino Unido também conceda os mesmos direitos aos cidadãos portugueses residentes no Reino Unido".

Reuters: Mas, eles (os britânicos) têm indicado que o vão fazer?

Ministro Economia: "Eles têm indicado que o vão fazer. A senhora primeira-ministra Theresa may disse aliás que independentemente de haver ou não acordo os direitos dos cidadãos da União Europeia no Reino Unido devem continuar a ser salvaguardados".

Reuters: Em relação às empresas do que é que estamos a falar?

Ministro Economia: "Em relação às empresas o acordo de saída estabelecia que até 2020 as questões se mantivessem basicamente inalteradas. Portanto, a circulação de mercadorias, a prestação de serviços poderia continuar a fazer-se da mesma forma".

"Na ausência de um acordo aquilo que se perspectiva é o Reino Unido tornar-se, de um momento para o outro, um Estado-terceiro, o que significa que as relações entre o Reino Unido e a União Europeia se passam a reger pelas regras gerais da Organização Mundial de Comércio".

"Isso tem alguns inconvenientes muito graves, altera profundamente os termos do relacionamento e circulação, designadamente de mercadorias entre o Reino Unido e a Europa".

"As exportações europeias para o Reino Unido passam a estar sujeitas a direitos aduaneiros, tem de haver controlo alfandegário e é preciso um reforço dos meios nas fronteiras para processar o movimento de mercadorias".

"Nós estamos a dizer que adoptaremos unilateralmente determinadas garantias, como por exemplo, o sector agro-alimentar não tem neste momento controlos sanitários e fito-sanitários relativamente às condições dos bens porque basicamente funcionamos com as mesmas regras".

"A UE reconhecerá unilateralmente que o Reino Unido passará a ser um Estado-terceiro autorizado e nós entendemos que tem condições sanitárias e fito-sanitárias adequadas, que permitirá que as mercadorias produzidas no Reino Unido entrem na UE sem controlo sanitário e fito-sanitário, esperando que haja reciprocidade. É normal que assim seja, que o reino Unido adopte as mesmas regras, até porque não nos podemos esquecer que grande parte da alimentação consumida no Reino Unido é importada da UE".

"Mas, em qualquer caso, tem de haver controlo alfandegário e aduaneiro, na ausência de um acordo, e isso é uma perturbação grande".

Reuters: Portugal pode ter um esquema diferente?

Ministro Economia: "Portugal não pode ter um esquema diferente porque a competência das relações comerciais é da União Europeia".

"O que Portugal faz, como outros países estão a fazer, é capacitar as suas empresas - designadamente aquelas que têm uma maior exposição ao mercado do Reino Unido - para puderem adaptar-se às novas circunstâncias".

Reuters: Uma das alavancas é a tal linha de financiamento até 50 ME para permitir essa adaptação?

Ministro Economia: "Sim. Por exemplo, muitas empresas exportam para países terceiros, mas muitas limitam-se a exportar para países da União Europeia".

"Exportar para um país da UE é como colocar uma mercadoria em Aveiro ou Vizeu. Se uma empresa que exporta para o Reino Unido passa a ter de trabalhar com um despachante, que cumprir formalidades que têm de ser processadas electronicamente, pode não estar apetrechada para isso. Portanto, nós temos de criar as condições às empresas portuguesas que, neste momento, exportam para o Reino Unido para se adaptarem às novas circunstâncias. Temos de lhes dar informação sobre o que precisam fazer e temos de lhes criar meios financeiros para fazerem essa adaptação. Do mesmo modo, também queremos apoiar as empresas a diversificarem os seus mercados de exportação".

"Uma empresa que coloca muitos produtos no Reino Unido e agora pode ter mais dificuldades por causa dos direitos aduaneiros que passam a ser cobrados, pode ter necessidade de prospectar, inquirir, de verificar as capacidades de exportar a sua produção para outros mercados. E também temos de apoiar isso".

Reuters: Pegava agora na questão do turismo. Nos 10 meses de 2018 houve uma quebra de turistas britânicos, pela primeira vez nos últimos sete anos com a depreciação da libra a desviar alguma procura britânica para destinos concorrentes, cujas moedas caíram mais que a inglesa, como Tunísia, Turqia, Egipto. O que é que o Governo português vai fazer para, de alguma forma, contrair este potencial movimento, sobretudo se houver uma maior depreciação da libra?

Ministro Economia: "Nós estamos, de facto, a ver já um declínio dos turistas britânicos, essencialmente a questão cambial tem um peso nisso porque torna mais baratos outros destinos concorrentes e afecta sobretudo as regiões do Algarve e da Madeira, onde chegam 80 pct dos turistas britânicos que nos visitam".

"Nós temos de compensar isso de duas maneiras: por um lado, sendo muito pro-activos juntos dos turistas britãnicos, vamos fazer uma campanha promocional para voltar a colocar Portugal e as suas vantagens como destino turístico no centro das atenções dos britãnicos. Vamos facilitar o mais possível a experiência de viagem dos turistas britânicos para que não sintam que a alteração da situação de estado-membro da UE tem impacto na forma como chegam a Portugal, como contactam as nossas instituições públicas e como podem ser atendidos nos nossos estabelecimentos de saúde".

"Estamos a fazer também um esforço grande de cobrir a oferta de transporte aéreo que em função das insolvências da Monarch, da Air Berlin e da Niki tiveram sobretudo for a de época. Fizemos um grande esforço no sentido de reconstituir a oferta de transporte aéreo, particularmente para Faro e Funchal, no Inverno. Estas companhias transportavam muitos turistas britânicos para o Algarve e Madeira. A Monarch em particular teve um impacto muito grande e nós estivemos a trabalhar com as companhias aéreas no sentido de termos nova oferta de alternativa ou complementar. Já superámos isso e se calhar isso também explica que em Novembro e em Dezembro já tenha havido uma recuperação de fluxo de turistas britânicos e nós tivemos, pela primeira, vez durante o ano de 7,6 pct das visitas de turistas britânicos".

"A segunda tarefa, que temos vindo a fazer já há dois anos, é encontrar, novas origens de clientes para o turismo português e temos visto, com muita satisfação, que temos atraído turistas em número significativo dos EUA, do Brasil, da China, mas também do Canadá e vamos trabalhar agora com outros destinos europeus. Vamos ter mais 15 rotas aéreas este ano, algumas para o Norte da Europa, que esperamos possam ser uma alternativa também aos turistas britânicos que eventualmente possam ser desencorajados de vir a Portugal".

Reuters: Obviamente, o turismo tem crescido bastante nos últimos anos. Têm uma previsão de crescimento nos próximos anos?

Ministro Economia: "Nós continuamos a assumir que o turismo vai continuar a crescer, provavelmente não ao ritmo dos anos anteriores - Portugal foi o destino turístico que julgo no mundo mais cresceu".

"Não é previsível que continue a crescer ao mesmo ritmo, mas achamos que esta mudança é estrutural e não meramente conjuntural e vemos que muita procura turística não está a chegar cá por falta de capacidade aeroportuária. Temos tido muitas intenções de abertura de novas rotas aéreas, que a ANA não tem podido satisfazer por falta de capacidade no areoporto (de Lisboa)".

Reuters: Então um crescimento de 2 ou 3 pct por ano?

Ministro Economia: "Até achamos que pode ser mais. Se calhar não vai crescer a dois dígitos durante mais 10 anos".

Reuters: Há companhias aéreas que já pediram slots - Emirates, Qatar. A questão é que os 29 milhões de passageiros no aeroporto de Lisboa está no limite. No curto prazo haverá um estrangulamento do aeroporto. Em quanto tempo terá o aeroporto mudar este estado de coisas e aumentar a capacidade?

Ministro Economia: "Desde já. A capacidade aeroportuária em Lisboa tem três tempos de actuação: um que é imediato e é evitar que, por via de melhoria de operações, que haja constrangimentos ou bloqueios que possam ser catastróficos. E, desde o verão do anos passado, constitui-se um grupo de trabalho muito operacional - que envolveu a ANA, a NAVE e TAP - que permitiu melhorar condições de operação do operação do aeroporto e evitar aquilo que seria terrível, que seria um bloqueio. As operações melhoraram os atrasos estão a ser recuperados. A própria TAP que teve atrasos muito significativos no ano passado tem vindo a melhorar a sua pontualidade nos últimos tempos. E a TAP são 60 pct do aeroporto em Lisboa".

"O segundo tempo, é o de adaptação da Portela (aeroporto de Lisboa). Até estar concluído um reforço da capacidade aeroportuária pela construção de um novo aeroporto (no Montijo) vão demorar alguns anos e a Portela precisa desde já aumentar a sua capacidade".

"Nesse sentido, o acordo celebrado entre o Estado e a ANA para o reforço da capacidade aeroportuária contempla o princípio da construção do novo aeroporto do Montijo, mas contempla também a expansão desde já da capacidade aeroportuária (no aeroporto de Lisboa). Isso vai-se fazer em várias fases e com muitas vantagens, por exemplo, uma das primeiras medidas vai ser a desactivação da pista 1735 (do aeroporto e Lisboa) e passar a fazer taxi ways mais frequentes, que permite aumentar a capacidade de circulação e o intervalo entre movimentos do llado A, permitindo muito rapidamente expandir a capacidade e sobretudo criar alguma folga que evite maiores atrasos. Este plano de expsnão do aeroporto Humberto Delgado vai-se fazer por fases e nisso se vai começar a trabalhar desde já, é absolutamente decisivo".

"Este acordo a que se chegou com a ANA levou algum tempo. Nos termos do contrato celebrado aquando da privatização da ANA - o operador do aeroporto - a Vinci comprou a ANA na base de uma concessão que estabelecia que, quando se atingisse os 22 milhões de passageiros, era preciso apresentar um plano de expansão designadamente contemplando a construção de um novo aeroporto. A ANA apresentou uma proposta de construção com uma capacidade complementar no Montijo".

"Não foi uma opção da ANA construir um novo aeroporto para descontinuar este, foi ampliar a capacidade do aeroporto Humberto Delgado e no Montijo. Em 2016, o Governo avaliou tecnicamente a proposta da ANA e chegou á conclusão que, do ponto de vista da exequibilidade e da capacidade e até das condicionantes ambientais a solução Portela+Montijo era viável e adequada".

"Mas, depois disso, era preciso encontrar os termos económicos em que o investimento nestas duas funções tinha de ser feito. Nós tinhamos de assegurar que o aumento de capacidade e o investimento necessário para isso não onerasse significativamente os encargos que os passageiros e os transportadores aéreos pagam na Portela".

"O contrato de concessão, nos termos em que estava fixado, podia determinar que este aumento de investimento levasse a um aumento muito significativo das taxas aerportuárias. E era isso que também não podíamos admitir. Não podíamos fazer um investimento no aumento da capacidade que levasse a um aumento muito significativo das taxas aeroportuárias. Foi isso que demorou a discutir, a negociar e a acertar os termos técnicos".

"A ANA vai financiar este investimento. O estado não vai financiar nem o investimento no aeroporto de Lisboa, nem no novo aeroporto, nem nas acessibilidades".

Reuters: Quando espera o resultado do estudo de impacto ambiental?

Ministro Economia: "O estudo de impacto ambiental, agora revisto, tem de ser reapresentado e espero que possa ser apreciado durante o primeiro semestre deste ano. Isso refere-se ao novo aeroporto do Montijo e não compromete a execução dos trabalhos na Portela".

"A ANA tem de apresentar o estudo de impacto ambiental".

"Esperamos que a muito breve trecho seja apresentado o estudo de impacto ambiental e que, com boa vontade, possamos apreciar e tomar uma decisão sobre o estudo ainda durante este semestre".

Reuters: Mas, então estamos a falar do terceiro trimestre deste ano quando pode estar tudo pronto para arrancar?

Ministro Economia: "Eventualmente".

Reuters: Passando a outro assunto. Para muitos economistas há a dúvida de saber se a previsão de um crescimento de 2,2 pct para este ano prevista no Orçamento de estado, com o Brexit e a desaceleração da economia alemã, são optimistas e se o Governo se prepara para fazer uma revisão em baixa? O estudo da Ernst & Young - Augusto Mateus & Associados referia que o turismo e o sector automóvel, fortemente exportadores, podem ser os sectores mais afectados com o Brexit.

Ministro Economia: "Esse estudo avalia o impacto de um Brexit sem acordo. Se a UE e o Reino Unido chegar a um entendimento que se mantém o relacionamento comercial sem tarifas esses cenários mais penosos não se verificarão".

"A verdade é que os britânicos podem não se entender no Parlamento de como é que querem os termos da saída, mas todos dizem que, pelo menos, uma zona de comércio livre querem estabelecer, querem um bom relacionamento comercial com o maior bloco económico do mundo. Acho que esse estudo é uma perspectiva de longo prazo no caso de tudo funcionar nas regras da Organização Mundial do Comércio. Acho que estamos longe desse cenário e é uma previsão (a do estudo) a longo prazo".

"A segunda nota é que o Governo faz projeções macroeconómicas para suportar o exercício do Orçamento. Com base em determinadas projeções do crescimento da economia, do emprego, estima as receitas e as despesas e isso é importante para fazer um exercício orçamental que satisfaça as necessidades públicas que exigem despesa e para ver em que termos projecta o défice as necessidades de financiamento".

"Mas, este exercício é sempre volátil. Aquilo que está no Orçamento não é necessariamente aquilo que acontece".

"O Governo, todos os anos por altura da Primavera no Programa de Estabilidade, actualiza as projeções orçamentais, trabalhando com base naquilo que é o real. Nós fazemos as projeções que suportam o Orçamento de Estado no Verão do ano anterior e, quando apresentamos o Programa de Estabilidade, actualizamos em função da realidade".

"Acho que é cedo para estarmos a pedir ao Ministério das Finanças que, desde já, faça exercícios de projecções".

"Eu tenho visto muitas projeções de instituições internacionais e nacionais que vão fazendo sobre a evolução da economia portuguesa e das Finanças Públicas e há duas coisas que, apesar de tudo, são coincidentes: todas projectam a economia portuguesa a continuar a crescer mais do que a média da UE e todas assumem que o défice do Orçamento vai estar num valor muito baixo, numa trajetória descendente".

Reuters: O investimento tem sido recorde nos últimos anos, como v~e a evolução?

Ministro Economia: "Continuamos a ver muita procura pelos sistemas de incentivos dos fundos europeus, muito investimento que já tem compromissos de apoio e estão agora numa fase de execução. E vemos também as intenções de investimento estrangeiro que estão na AICEP".

"Aquilo que nos dá ideia - coincide com as projeções de várias instituições - é que o investimento empresarial vai continuar a crescer. Também vemos intenções de investimento num sector que começa a ser muito importante, que é imobiliário. Temos muitas intenções de investimento de empresas dos sectores de serviços, tecnológicos e industriais, que precisam de instalações para funcionarem e continuamos a ver que os fundamentais 'estão lá', que a procura 'está lá'".

"Aprovámos muito recentemente uma legislação sobre os 'real estate investment trust' para Portugal, que está a ter muita adesão por parte dos investidores".

"Mais do que isso, as empresas portuguesas passaram por um período em que investiram muito pouco. É absolutamente necessário, independentemente da evolução da economia - salvo uma catástrofe de uma recessão séria, que ninguém antecipa - que as empresas tenham de continuar a investir".

"Portanto, todas as previsões são de que o investimento vai continuar a crescer nos próximos anos".

Reuters: Não ao ritmo de 2017?

Ministro Economia: "Em todo o caso, o Banco de Portugal projecta uma aceleração do investimento em 2019 relativamente a 2018. Isso é coincidente com estas intenções de investimento que vemos".

Reuters: O Brexit pode trazer mais investimento?

Ministro Economia: "Vemos muitas intenções de investimento estrangeiro. Não consigo dar-lhe um exemplo de uma empresa que actualmente esteja no Reino Unido e queira deslocalizar actividades para Portugal. Mas, sei que temos tido grande capacidade de captar investimento de países terceiros que estão á procura de bases na Europa para puderem funcionar e que, noutras circunstâncias, poderiam escolher o Reino Unido. Sobretudo na área dos serviços, dos serviços partilhados, tecnológicos, subimos imenso na cadeia de valor e a história portuguesa nos tempos recentes é de muito sucesso".

"Tenhos falado imenso com investidores estrangeiros e, quando lhes faço a pergunta sobre o que é que os leva a localizar investimentos em Portugal, quase todos eles coincidem na mesma coisa: qualidade dos recursos humanos, não apenas na formação técnica, mas também na capacidade linguística, na flexibilidade e adaptabilidade em trabalhar em contextos internacionais, na orientação para o resultado".

"A segunda é sermos um país aberto, tolerante, muito pacífico, seguro e com estabilidade política".

"Para além disto tudo, continuamos a apoiar o investimento privado, criando condições para nos tornarmos um país mais atraente desses factores de decisão, canalizando financiamento de diversa origem para o tecido económico. Vamos continuar a apoiar o processo de inovação das empresas portuguesas. Temos tido um aumento da despesa pública e privada na Investigação & Desenvolvimento (I&D) e isso é absolutamente decisivo se queremos ganhar a batalha da Indústria 4.0. Vamos continuar a investir fortemente na qualificação dos nossos recursos humanos. A grande vantagem que Portugal tem neste momento, em comparação com outras épocas da nossa história, é que nós fizemos um investimento de décadas no nosso sistema educativo, que não é suficientemente valorizado. Mas, os nossos jovens são aqueles que em toda a OCDE mais progrediram nas competencias de Física e Matemática. Neste momento, no PISA, Portugal já está na média da OCDE. As nossas gerações mais jovens já têm níveis de educação semelhantes aos dos outros países europeus. Nós ainda temos nas gerações mais velhas défice de qualificação, mas nas mais jovens estão com níveis muito bons".

Reuters: Assistimos a um dos maiores investiments em percentagem do PIB por parte de empresas chinesas nos últimos anos, na vigência do anterior Governo e deste Governo. Isto é benéfico ou pode criar problemas com outros parceiros, nomeadamente os EUA? Acha que o investimento chinês vai continuar a ser canalizado para Portugal?

Ministro da Economia: "Em primeiro lugar, Portugal é um país que é aberto ao investimento estrangeiro. Nós não discriminamos os investidores em razão da sua nacionalidade. Tratamos exactamente da mesma maneira um investidor que venha da União Europeia, das Americas, de África ou da China".

"Nós somos muito abertos ao investimento estrangeiro".

"Em segundo lugar, houve um período recente da nossa história em que os nossos tradicionais investidores europeus ou outros pura e simplesmente evitaram investir em Portugal. Nesse momento, muito difícil foi bom ver que a China estava disponível para reconhecer a qualidade dos activos portugueses e do investimento feito em Portugal. Hoje em dia podem estar satisfeitos com o resultado desse investimento que escolheram fazer, num momento muito difícil para nós, e que compensou muito bem".

"A terceira coisa que é positiva ver é que agora a China já não é a nossa única fonte de investimento, nem sequer é a mais importante. Ou seja, tendo recuperado a normalidade, aquilo que vemos é que Portugal é um destino muito atraente para os investidores estrangeiros e estamos a ver um crescimento do investimento novamente com origem europeia, mas também com origem americana e de outros pontos da Ásia".

"A China interessou-se por Portugal, é um país amigo. Não é nosso aliado, não fazemos parte de uma mesma aliança que a China, mas é um país amigo, com o qual temos relações de muitos séculos - fomos o primeiro país ocidenta a estar na China e conhecemo-nos bem, colaborámos em coisas difíceis como foi o processo de transição de Macau para a Administração chinesa. Há confiança entre os dois países, somos amigos, não somos aliados, mas tratamos com consideração o investimento chinês, como tratamos o norte-americano, o brasileiro, etc...

Reuters: Ainda que não seja da sua tutela, cada vez mais se ouve nos 'mentideros' que provavelmente a OPA da CTG sobre a EDP (SA:ENBR3) acabará por 'morrer na praia' porque nos EUA provavelmente não dará autorização, há a questão do 'unbundling' em Portugal. Tem algum comentário?

Ministro Economia: "É uma operação de mercado sujeita a determinadas condições que o Governo não controla. Vamos ver o que poderá acontecer, o que os reguladores das várias jurisdições vão fazer. Eu não acompanho essa matéria, como sabe".

(Por Sérgio Gonçalves e Axel Bugge; Editado por)

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