Por Sergio Goncalves
LISBOA, 22 Mar (Reuters) - Os países europeus têm de aprofundar a união monetária e avançar com o crucial instrumento orçamental para a estabilização económica, que reforçaria o papel global do euro e protegeria os interesses da Europa, disse o presidente do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE).
O Eurogrupo tem até Junho para concordar com as características deste instrumento orçamental, que promova a convergência e competitividade, mas Klaus Regling admitiu que se está "longe de um consenso sobre isto entre os Estados-Membros".
"(Mas) este é um passo positivo, pois incentivará reformas estruturais e fortalecerá a competitividade nos países membros do euro", disse Klaus Regling, numa conferência em Lisboa.
"Se conseguirmos aprofundar ainda mais a união monetária, isso certamente também ajudará a reforçar o papel global do euro e acredito que é a altura certa para o fazer, não só para melhorar o funcionamento do sistema monetário internacional, mas também para proteger os interesses da Europa", frisou.
Klaus Regling frisou que, das discussões que o MEE tem com investidores de todo o mundo em roadshows e durante as suas actividades de mercado, "é muito claro que os investidores estão a olhar para este tópico, e eles fazem perguntas".
A Comissão Europeia e o Banco Central Europeu dizem que, para completar a união económica e monetária, é necessário dispor de fundos comuns para desempenhar um papel estabilizador em caso de recessão económica.
A Comissão Europeia, que terá que preparar a versão final da proposta orçamental da zona do euro antes de se tornar lei da União Europeia, até agora propôs que o orçamento da zona do euro seja de 55.000 milhões de euros (ME).
Desse total, 25.000 ME viriam do orçamento da UE e seriam usados para apoiar reformas e convergência entre economias, enquanto os 30.000 ME restantes seriam empréstimos, garantidos pelo orçamento da UE, para apoiar investimentos em países que enfrentam choques económicos temporários.
Klaus Regling destacou que um seguro de depósito europeu é importante para a conclusão da união bancária, "podendo-se debater as pré-condições que devem existir, mas, em última instância, seria extremamente benéfico".
Lembrou que "os programas do MEE dos últimos anos teriam sido muito menores" se houvesse um seguro de depósito comum.
"Apesar das opiniões divergentes nos nossos Estados-Membros, estou confiante de que um sistema europeu de seguro de depósitos virá eventualmente", acrescentou o presidente do MEE.
Klaus Regling sublinhou que, "graças a um amplo pacote de reformas, incluindo a criação dos fundos de resgate, a área do euro está hoje em terreno muito mais sólido".
Desde 2011, os fundos - o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF) e o Mecanismo Europeu de Estabilidade (ESM) - desembolsaram 295.000 ME para a Irlanda, Portugal, Grécia, Espanha e Chipre.
"Actualmente, Portugal, Irlanda, Espanha e Chipre são histórias de sucesso, uma vez que registam um crescimento elevado e taxas de desemprego em queda rápida. E eles podem facilmente refinanciar-se no mercado novamente", disse.
Afirmou que revisão em alta do rating de Portugal pela agência S&P "é outro sinal de optimismo", recordando a yield dos 'bonds' a 10 anos de Portugal está agora abaixo de 1,5 pct, o que "é um enorme feito" se se lembrar que atingiu 17 pct em 2012.
(Por Sérgio Gonçalves; Editado por Catarina Demony e Patrícia Vicente Rua)