Por Sergio Goncalves
LISBOA, 22 Mar (Reuters) - A Europa tem de reforçar o papel global do euro face à posição dominante do dólar, sendo crucial concluir a União Bancária e complementar a política monetária com uma capacidade orçamental na zona euro, disse o presidente do Eurogrupo.
Mário Centeno, também ministro das Finanças de Portugal, adiantou que "o espectro de guerras comerciais, a ameaça de ruptura de tratados e alianças internacionais, e os conflitos por procuração, geram novos alinhamentos, novos desafios".
Realçou que a evolução do papel internacional do euro tem sido por vezes subalternizado, mas "a ausência e descrédito das políticas americanas dá ainda mais sentido".
"O reforço do papel do euro criaria condições mais favoráveis ao comércio, à integração económica e serviria de escudo à nossa economia, face à incerteza que (...) hoje vivemos", disse numa conferência.
Tal "será especialmente importante num cenário de crise em que o Estado que controla a moeda dominante se recusa a providenciar a liquidez necessária ao sistema internacional".
"Este não é um risco negligenciável nos dias que correm e em face do debate e situação política nos Estados Unidos da América", disse Mário Centeno.
Afirmou que "um euro mais forte no plano internacional reforçaria a capacidade da Europa de projetar a sua influência e reformar a ordem mundial".
"Para que fique claro: reforçar o papel internacional do euro não significa suplantar o dólar. Reforçar o papel do euro implica garantir um lugar a par das outras moedas dominantes do sistema", afirmou o presidente do Eurogrupo.
Recordou que o euro é a segunda moeda do sistema monetário internacional, a seguir ao dólar - por uma larga margem, mas "o euro fica aquém do que seria de esperar dada a relevância económica da Europa no mundo".
Explicou que, "ao expor as deficiências no desenho institucional da moeda única, a crise foi um duro golpe nas aspirações internacionais do euro".
COMPLETAR REFORMA
"Dar resposta a estas deficiências é a melhor forma de reforçar a sua posição", referiu, avisando que "não há uma solução mágica", mas é necessário completar a União Económica e Monetária.
Centeno urgiu a redução da fragmentação no sistema bancário e no mercado de capitais, respetivamente completando a União Bancária e construindo a União dos Mercados de Capitais.
"Temos também de assegurar que a política monetária se complementa com uma capacidade orçamental. O acordo de dezembro para desenhar um instrumento orçamental dedicado aos países do euro foi um passo histórico nesse sentido", referiu.
"O instrumento, que estamos a desenhar no Eurogrupo promoverá a convergência e a competitividade das nossas economias, tornando a zona euro mais resiliente aos choques económicos", acrescentou.
No longo prazo, "a possível criação de um ativo de refúgio para a zona euro como um todo será crucial para o contínuo reforço do papel do euro".
Frisou que à Europa "cabe pugnar pela criação de condições para um comércio livre e justo, moldando e dando sentido ao processo de globalização".
"Em resposta à incerteza e desconfiança, a Europa deve reforçar a estabilidade e sustentabilidade da moeda única. Isso só será possível com a manutenção do impulso integrador", concluiu.
(Por Sérgio Gonçalves Editado por Patrícia Vicente Rua em Lisboa)