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Por Sergio Goncalves
LISBOA, 24 Abr (Reuters) - A Assembleia geral da EDP (SA:ENBR3) EDP.LS 'chumbou' a proposta para remover o limite de 25 pct aos direitos de voto, ditando o fim do 'bid' de 9.000 milhões de euros (ME) lançado pela China Three Gorges (CTG), mas a parceria com a CTG é 'chave' e vai manter-se, nomeadamente a olhar para oportunidades na América Latina.
Esta desblindagem dos estatutos tinha de ter o apoio de dois-terços dos votos presentes para ser aprovada, mas um accionista disse que "a proposta de alteração dos estatutos foi chumbada com 56,6 pct dos votos expressos".
Luís Amado, chairman da EDP, salientou que "a CTG é um pilar fundamental" da EDP como investidor estratégico, como investidor industrial "e minizará potenciais ataques especulativos de outros eventuais investidores", salientando a confiança entre as duas empresas e "a lisura de procedimentos" durante o 'bid'.
"O que se passou hoje tinha a ver com uma oferta em particular (da CTG) e não com o futuro da companhia. A parceria tem todo o potencial, toda a sua força, estamos tranquilos quer com o futuro da companhia (EDP), quer da parceria com a CTG", disse António Mexia, Chief Executive Officer (CEO) da EDP.
Adiantou que, "no contexto do plano apresentado recentemente - 12 de Março - pela EDP, que teve o apoio de todos os accionistas de referencia, esta é uma parceria importante, é para manter independente deste resultado" da Oferta.
AMÉRICA LATINA
António Mexia destacou que, "desde que a CTG entrou na EDP, esta sempre teve capacidade de trabalhar em conjunto e aumentou a capacidade de intervenção que não tinha, em particular na América Latina".
"A América Latina já é hoje uma área de colaboração entre a EDP e CTG e estamos a trabalhar em conjunto para entrar em novos mercados na América Latina...o resto, já veremos. Tudo está em aberto".
Adiantou que, no âmbito da parceria, a EDP e a CTG farão "tudo aquilo e só aquilo que crie valor para os accionistas".
Recentemente fontes disseram à Reuters que, após o colapso da OPA, a EDP e a CTG podiam enverdar para uma 'joint venture' na América Latina.
FRACASSO OPA
A 12 de Abril, a CMVM fez um ultimato à CTG, avisando que os seus 'bids' sobre a EDP e a EDP Renováveis seriam extintos, se esta AG rejeitasse aquela proposta de alteração dos estatutos e a empresa estatal chinesa não retirasse esta condição da Oferta. numa carta enviada hoje ao vice-presidente da mesa da AG, a CTG disse que, "no caso de o resultado da votação não permitir a eliminação do actual limite à contagem de votos, que a CTG não renunciará a essa condição".
O 'board' da EDP considerou que o preço de 3,26 euros por acção era muito baixo.
A proposta para desblindar os estatutos da 'utility' foi feita pelo fundo activista Elliott, que tem cerca de 2,5 pct na EDP e está contra a OPA dos chineses.
A OPA da CTG precisava de aprovação regulatória em vários países, incluindo o Brasil, os Estados Unidos, Portugal e a União Europeia mas, recentemente, fontes disseram à Reuters que a CTG interrompeu as negociações com os reguladores da UE sobre o lance proposto.
Os analistas viam como difícil que a CTG tivesse o 'OK' das autoridades norte-americanas - Cifius - para comprar os activos nos EUA, bem como da DG COMP europeia pois violaria as regras europeias de concorrência do 'unbundling' - obrigação de separar a produção e a distribuição de electricidade do transporte.
A Elliott, que tem uma posição de 2,9 pct na EDP e é um dos dez maiores acionistas, propôs uma alternativa à OPA da CTG, propondo o fundo norte-americano que a EDP cristalize 7.600 ME de valor com vendas de activos, incluindo a alienação dos 51 pct que a 'utility' portuguesa tem na EDP Brasil por 2.300 ME.
Posteriormente, a 12 de Março, a EDP anunciou que planeia investir 12.000 milhões de euros (ME) até 2022 para impulsionar a aposta em renováveis sobretudo na América do Norte e Europa, prevendo encaixar mais de 6.000 ME com rotações e vendas de activos, reduzindo a exposição na Ibéria.
(Por Sérgio Gonçalves; Editado por Patrícia Vicente Rua)